O lado sombrio de Sissi
Um museu recém-inaugurado
em Viena mostra como a imperatriz
era infeliz e obsessiva
(Fonte da materia Revista Veja)em Viena mostra como a imperatriz
era infeliz e obsessiva
É difícil dissociar a imagem de Sissi, a imperatriz Elisabeth da Áustria, da atriz Romy Schneider, que, na década de 50, estrelou os três filmes sobre uma das mulheres mais fascinantes da Europa do século XIX. Na trilogia do diretor Ernst Marischka, Sissi é uma moça adorável e cheia de alegria de viver, que se casa com um apaixonado imperador Franz Joseph I. A imperatriz passa por alguns percalços, mas acaba vivendo feliz para sempre. A Sissi de verdade, no entanto, tinha pouco a ver com a Sissi do cinema. A imperatriz era uma mulher infeliz no casamento, depressiva, vaidosíssima e anoréxica. O lado mais sombrio de sua personalidade está retratado em cartas, poesias e diários expostos no recém-inaugurado Museu Sisi, no Palácio de Hofburg, antiga residência de inverno da família imperial, em Viena. "Nosso objetivo é mostrar a imperatriz como ela era na realidade, por trás de todos os clichês", disse a VEJA a curadora do museu, Katrin Unterreiner.
Numa época em que a magreza estava longe de ser um padrão de beleza, Sissi controlava o peso com rigor obsessivo. Ela tinha o costume de se pesar três vezes por dia. Com exíguos 45 quilos distribuídos por 1,73 metro de altura (um índice de massa corporal inferior ao de Gisele Bündchen e abaixo do considerado saudável pela Organização Mundial de Saúde), a imperatriz vivia o eterno drama das vítimas da anorexia: por mais que emagrecesse, nunca era o suficiente. Sissi era dada a dietas malucas. Durante um período só se alimentava com meia dúzia de laranjas por dia. Em outro passava dias à base de sopa. Houve época em que Sissi se recusava a comer alimentos sólidos e mandava espremer bifes crus, para, então, beber o caldo – esses espremedores estão expostos no museu. A obsessão da imperatriz pela magreza era tanta que ela acreditava que choques térmicos poderiam ajudá-la a perder peso. Sissi tinha o costume de tomar banhos de vapor e, logo em seguida, mergulhar numa banheira com água a 7 graus. Tanta privação alimentar e pouco cuidado com a saúde renderam-lhe, por volta de 1895, o diagnóstico de desnutrição e problemas pulmonares. "Receio que tu não sigas o conselho do médico e continues a minar a tua saúde, até quando for tarde demais e não houver mais remédio. Nada mais posso fazer que rogar-te sobretudo que te alimentes", escreveu-lhe o imperador Franz Joseph.
Extremamente vaidosa, Sissi tinha o costume de colecionar fotografias de outras mulheres bonitas só para lhe servir de comparação. Dona de uma beleza rara, ela sempre aparentava ter menos idade. Aos 42 anos, não se deixou mais retratar para que a imagem de sua juventude esplendorosa fosse perpetuada. Um de seus maiores complexos eram os dentes amarelados. Por isso, evitava sorrir. Sissi dedicava cerca de três horas do seu dia para pentear a longa cabeleira, que lhe chegava aos pés. Nas sessões de lavagem, que aconteciam a cada duas semanas, ela usava uma mistura de conhaque e ovos. Para a pele, Sissi mandava preparar máscaras faciais à base de morangos prensados e dormia com bifes sobre o rosto.
Sissi e Franz Joseph eram primos. A prometida do imperador era sua irmã mais velha, Helene. Mas, ao bater os olhos em Sissi, Franz Joseph decidiu que aquela menina de 15 anos seria a futura imperatriz da Áustria. Menos de um ano depois os dois estavam casados. Sissi sentia-se profundamente angustiada com a vida na corte vienense e, principalmente, com o tumultuado convívio com a sogra, Sophie. Conforme o tempo passava, o relacionamento com o imperador tornava-se insuportável. E ela se sentia cada vez mais sozinha. "Perambulo solitária sobre a Terra há tempo, alienada da vida e do prazer; não tenho e nunca tive alma que me entendesse", descreveu Sissi, em seu diário. Aflita, em 1860 ela deixou Viena e partiu para uma viagem de dois anos pela Europa. Mãe de quatro filhos, Sissi só teve uma relação mais estreita com a caçula, Marie Valerie. A mais velha, Sophie, lhe foi tomada pela sogra e morreu aos 2 anos de idade. O único filho, Rudolf, foi educado longe de sua influência e, aos 31 anos, cometeu suicídio.
Sissi, contudo, tinha outra faceta. Ela se engajou em causas humanitárias e chegou a visitar hospitais e asilos durante uma epidemia de cólera. A imperatriz da Áustria foi para a Europa do século XIX o que seria a princesa Diana 100 anos depois. As duas eram lindas, invejadas, copiadas e envoltas em uma aura de bondade. Mas foram também muito infelizes e morreram de forma trágica. Sissi foi assassinada em 1898, aos 60 anos, em Genebra, na Suíça, por um anarquista italiano.
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